"Nada mais tocante do que a nossa nudez mas as convenções, os tabus, a hipocrisia dos falsos moralismos, fazem–nos às vezes representar papéis que não são nossos, usar máscaras que nos desumanizam e tornam infelizes, apenas pelo medo da reprovação da família, dos amigos, da sociedade. Tememos não ser amados por sermos diferentes do que é suposto ser. Nascemos, vivemos e morremos ao lado de amigos e familiares que se dizem íntimos mas para quem somos e nos são, desconhecidos. Numa família, raras são as pessoas que se conhecem, amam e aceitam verdadeiramente. Queremos o amor dos nossos pais, mas eles próprios nos entregam no berço, o papel que nos esperam ver desempenhar vida fora.Com pouca margem de improviso e criatividade, porque a criatividade faz de nós seres únicos e a diferença paga-se caro. A maior miséria que podemos herdar é o medo que através de gerações, aparece personificado pela incompreensão e desamor, pela guerra, intolerância e ausência de compaixão, de saber estar ao lado de quem sofre. Pela farsa que ele nos leva a representar. As personagens do livro, comungam em gerações diferentes, da mesma mágoa escondida. Cada uma vive à sua maneira, com aceitação, revolta, desânimo, tristeza, impotência ou desespero as consequências de uma sexualidade reprimida porque mal vista ou considerada aberrante. Um medo disfarçado de juiz da moral e dos costumes, que transforma o amor e o sexo em actos vergonhosos quando deviam ser belos e libertadores."
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