segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

As imobiliárias da comunidade gay

"(...) Andreia tem 34 anos e trabalha há seis na RE/MAX - antes era secretária. Clara tem 38 e está na agência há quatro anos, continua a esculpir mas agora em part-time. Formam uma dupla agentes imobiliárias especialmente pensada para a comunidade LGBT. Ou seja, serão as primeiras agentes imobiliárias dedicadas a gays, lésbicas, bissexuais e transexuais. As primeiras em Portugal - desde Junho de 2008 - porque noutros países é comum haver empresas que encaram a comunidade LGBT como segmento de mercado, sejam imobiliárias, seguradoras ou agências de viagens. A ideia aliás foi pôr em prática o que sabiam que acontecia já em muitos outros países, com sucesso comercial. Mas para quê um serviço especial para a comunidade LGBT? «Falta à vontade a algumas pessoas que não se querem expor quando se dirigem a uma empresa», diz Andreia Melo. Talvez por isso, «é incrível a falta de informação» sobre questões legais e a dupla conta com apoio jurídico para reencaminhar e esclarecer as dúvidas dos clientes.

NOVA MENTALIDADE EMPRESARIAL

Além do imobiliário, há em Portugal outras áreas empresariais que já procuram clientes entre a comunidade LGBT. A propósito, Andreia Melo dá exemplos de uma empresa de eventos, da nova revista LGBT portuguesa Com´Out e da versão lisboeta da revista Time Out, que tem uma secção especializada. Para a agente imobiliária, «o ano de 2008 foi de mudança de mentalidades, o que implica uma nova atitude empresarial».
Mas a generalidade das grandes marcas e empresas ainda não consideram a comunidade LGBT como um segmento de mercado. «Não faz sempre sentido esse tipo de segmentação, porque [a comunidade LGBT], muitas vezes, não tem necessidades diferentes», diz o publicitário Tiago Viegas, 30 anos, director criativo na Brandia Central. Já o presidente da ILGA - associação de defesa dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transgénero -, Paulo Côrte-Real, explica esse tipo de oferta com o facto de haver «vários campos em que infelizmente [ainda] é necessária uma segurança adicional para que as pessoas LGBT tenham acesso a serviços». Este activista e economista de 34 anos fala em queixas de discriminação de consumidores gays -por exemplo no acesso a empréstimos bancários - e diz que acaba por haver em alguns casos «relutância em procurar sequer aceder aos serviços, com medo de uma eventual negação em função da orientação sexual». Com a dupla RE/MAX LGBT não há esse perigo. E todos os clientes são bem tratados, mesmo que sejam heterossexuais. Senão, diz Andreia Melo, «seria discriminação»."


in Visão nº829 (22 a 28 de Janeiro de 2009)

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