segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

"COME OUTS' VISÍVEIS"

"O sociólogo José Garrucho, 49 anos, explica :« Para alguns sectores da sociedade, a homossexualidade cria confusão por causa da divisão em masculino e feminino. E quando vêem as imagens no ecrã, interpretam-nas à luz da sua forma de pensar.» Ou seja, em alguns casos, pode até causar reacções homofóbicas, acusando esses "desvios" à sua contracepção da sociedade de serem responsáveis pela falta de valores.« Em situações de crise, os grupos minoritários são aproveitados como bodes expiatórios. Veja-se o caso dos Imigrantes.», lembra o especialista.
A opinião de José Garrucho não é partilhada por Miguel Vale de Almeida,48 anos, antropólogo, especialista em questões de género e sexualidade. Diz ele que «a televisão deverá estar atenta aos elementos da sociedade e aos assuntos que são menos visíveis.» No caso Português, Vale de Almeida considera que os programas televisivos têm vindo a reagir à pressão positiva do movimento Lésbico Gay e Transsexual (LGBT) no sentido dessa visibilidade.
Em Setembro de 2005, o movimento teve o seu maior período de apoteose. A Sic estreou, em horário nobre " Esquadrão G" um reality show baseado num formato americano (Queer Eye for the straight Guy). Nele as estrelas do programa- João Ribeiro, Jorge Correia de Campos, Óscar Reis, Paulo Piteira e Pedro Crispim -, gays assumidos tentaram mudar machos latinos no sentido de fazer as suas mulheres mais felizes.
De cada vez que uma figura pública sai do armário sem que isso afecte a sua imagem dá-se mais um passo em frente. Lembre-se dos casos de Solange- F , ex-apresentadora do " Curto Circuito" e agora membro da Tertúlia cor-de-rosa no programa Fátima (SIC), ou Manuel Luís Goucha que recentemente deu uma entrevista dizendo que o seu companheiro é a pessoa de quem mais gosta, a seguir à sua mãe. Sem ser 100% explícito, terá feito mais com estas declarações do que alguns papéis de ficção.
Pedro Frazão, 32 anos, psicólogo, autor do primeiro curso de Introdução aos Estudos Gays e Lésbicos, no Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), em Lisboa, acha mesmo que «a existência de `modelos´, em programas de televisão e também em pessoas com notoriedade, produz mensagens muito positivas. Ajuda-as a fazerem o seu coming out, a nível familiar e social» (...)
A ficção exerce hoje o papel dos mitos na Antiguidade - o de falar do que não se pode falar. Com as devidas diferenças, as telenovelas e as séries em geral podem também funcionar como substitutas do teatro, como ele era entendido nessa mesma Antiguidade clássica: provocador de mentalidades (...)"
in Visão - nº822 (4 a 10 de Dezembro de 2008)

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